terça-feira, 23 de março de 2010

Representatividade x Apropriação.

Quando estava fazendo o bacharelado em Administração, desenvolvi na Iniciação Científica  um trabalho sobre cooperativas populares. Estas estão inseridas no que  alguns autores chamam de uma alternativa ao capitalismo, a Economia Solidária. Ao observar estes grupos e nas discussões com o grupo da pesquisa algumas questões viam à tona. Observa-se que mesmo aquelas pessoas sem educação formal, ou analfabetas, semi-analfabetas, enfim, aquelas pessoas consideradas marginalizadas na sociedade, possuem saberes. Além de cooperativas de trabalho, existem ainda grupos culturais populares, aquele rapaz do cafezinho, a mulher que abre a janela da casa e vende balas, etc. Todos eles de alguma forma estão produzindo, criando da sua forma, por vezes, intuitiva e, muitas vezes, desprovidos do conhecimento acadêmico, porém com seus "saberes" próprios desenvolvidos na experiência da vida. Passando por esta experiência da Iniciação Científica, vieram debates em sala de aula em outro curso e em outra universidade, onde comecei a maturar a reflexão e fazer pontes. Michel Foucault (1972) fala no texto Os Intelectuais e o Poder, a respeito da "indignidade de se representar o outro", defendendo a idéia da auto-representatividade da pessoa ou do grupo pesquisado que fala por si sem a intermediação do pesquisador. A este ponto que queria chegar. A acadêmia em suas diversas áreas tem se interessado em estudar estes saberes e estas produções populares e tem se discutido muito até que ponto pode-se ir sem interferir na auto-representatividade. O problema, na minha opinião e como coloquei em sala de aula, é a apropriação destes saberes por quem está pesquisando. Porém, não vejo indignidade na sua representação, a menos que seja feita de forma a inferiorizar ou deturpar a realidade. Existem produções culturais populares que estão desaparecendo e seu estudo é uma forma de perpetuá-los na memória coletiva. Outros estão acontecendo e são desconhecidos. Portanto, representá-los de forma respeitosa e coerente é válido, a apropriação que é desleal e indigna.

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